A guerra atinge o comércio global

A guerra na Ucrânia e o foco chinês na tolerância zero com a pandemia limitam as previsões de crescimento do comércio de mercadorias.
 

Lisboa - 02-ago-2022

 

 

O mais recente relatório da Crédito y Caución alerta para a inversão da tendência registada em 2021 de crescimento acelerado do comércio global. A seguradora de crédito prevê que o aumento das trocas de mercadorias se limitará a 4% em 2022 e 2023, o que implica um acelerar do regresso à normalidade, com uma relação de um para um entre o crescimento do PIB global e o comércio.

 

 

O comércio mundial de mercadorias retomou com força em 2021 apesar do impacto negativo das recorrentes vagas de Covid-19. O seu intenso crescimento de 9,8% permitiu superar o nível do comércio pré-pandemia em outubro de 2021. Uma análise detalhada revela um forte crescimento da siderurgia, do setor químico ou dos circuitos integrados e uma evolução mais fraca no têxtil e no setor de maquinaria.  O setor automóvel revelou um forte crescimento, mas abaixo dos níveis de 2019 devido às interrupções na sua cadeia de valor. A nível regional, o crescimento registado nos Estados Unidos coincidiu com a média mundial enquanto na zona euro esteve ligeiramente abaixo.  Na China (13,6%) e no resto da Ásia emergente (18,6%), o crescimento foi muito mais dinâmico. Em 2022, a guerra na Ucrânia e a política chinesa de tolerância zero provocaram a desaceleração do comércio mundial.

 

A Rússia e a Ucrânia têm uma participação relativamente pequena no comércio mundial (2%), mas um grande impacto nos preços das matérias-primas. Os dois países representam 1/4 das exportações mundiais de trigo e têm um peso específico nas exportações de fertilizantes (13%), cereais (8%), gorduras e óleos (6%). Além disso, a Rússia tem um papel relevante como fornecedora de platina (13% das exportações mundiais), níquel (12%) e, sobretudo, petróleo e gás (10%). A guerra provocou uma forte subida dos preços de todas estas matérias-primas, que reduz as receitas reais e eleva os custos de produção tanto nas economias avançadas como nas emergentes, com impacto no comércio mundial. 

 

A guerra também provocou o desvio das rotas de transporte de mercadorias para rotas já sobrecarregadas. Partes do Mar Negro e do Mar de Azov não são transitáveis e as companhias marítimas fecharam rotas para evitar o espaço aéreo e os portos russos. O carregamento de contentores nos portos russos também diminuiu em 50% no comparativo anual e parou totalmente em Odessa desde o início da guerra. Neste contexto, os prazos de entrega, a escassez de bens intermédios e os custos comerciais aumentaram em muitos países.


 
A estas importantes perturbações do comércio mundial somam-se as das cadeia de valor, que continuam sob pressão dada a estratégia de tolerância zero na China. Embora os portos aéreos e marítimos se mantenham operacionais, os encerramentos em Xangai e noutras grandes cidades chinesas propiciaram uma escassez de mão de obra que afeta as empresas de transporte rodoviário, reduz o pessoal de assistência em terra e, em última instância, se reflete na lentidão dos portos. O tráfego aéreo também foi consideravelmente afetado.

 

Sobre a Crédito y Caución


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