Os problemas económicos ensombram as eleições turcas

As próximas eleições gerais na Turquia poderão representar um ponto de viragem para a economia do país, independentemente de quem vencer nas urnas.
 

Lisboa - 10-mai-2023

 

 

A economia turca encontra-se numa situação perigosa, em grande parte devido à falta de rigor que dominou a sua política monetária nos últimos tempos. De acordo com o mais recente relatório divulgado pela Crédito y Caución, o caminho atual que dá prioridade a uma elevada despesa pública para apoiar o consumo é insustentável. A economia turca sobreviveu relativamente bem à pandemia, com um aumento do PIB superior a 11% em 2021. Contudo, este pico foi efémero. O crescimento caiu até 5,6% em 2022, e prevê-se que se situe em 1% este ano apesar de uma política fiscal expansiva, com aumento do investimento público e medidas de apoio social para apoiar o consumo privado. “Estas medidas incluíram um aumento do salário mínimo, um importante projeto de habitação social, subvenções ao crédito e a supressão do imposto sobre os rendimentos aplicável ao salário mínimo", explica o economista da Atradius, Theo Smid.  

 

A elevada inflação e a debilidade da lira pesam sobre o poder de compra dos consumidores. Quando o IPC alcança os 85% na variação homóloga, como aconteceu em outubro e novembro, a generosa política fiscal perde poder para apoiar a expansão já que o poder de compra dos consumidores apenas abrange os bens essenciais. Apesar de se suavizar nos últimos meses devido ao efeito base, a Crédito y Caución prevê que a inflação média se situe próxima dos 40% em 2023. Enquanto muitos bancos centrais abordaram a inflação global com subidas das taxas de juro, a Turquia tomou um caminho oposto: desde setembro de 2021, a taxa de juro oficial do banco central reduziu-se até 8,5%. 

 

A lira foi uma das principais vítimas desta postura, com uma depreciação de 34% face ao dólar americano durante esse período. A Crédito y Caución prevê que a lira continue a sua depreciação gradual face a outras divisas de referência em 2023 e 2024. A este marco temos de acrescentar o abrandamento das exportações, para as quais se prevê uma contração de 0,8% este ano. A grave fragilidade da economia viu-se ampliada em fevereiro pelo devastador terremoto que assolou as regiões do centro e sul do país. O custo humano foi catastrófico. O custo económico também será elevado na medida em que a região afetada representa 9,3% de PIB. 

 

A Turquia tem grandes necessidades de financiamento exterior, para cobrir os reembolsos da dívida e reforçar a balança por conta corrente. A Crédito y Caución prevê que esta necessidade alcance os 267.000 milhões de dólares em 2023 e 2024, o que representa mais de 30% do PIB do país. Neste contexto, as empresas turcas podem ter dificuldades para fazer face ao seu elevado sobre-endividamento em divisas. Enfrentam ventos desfavoráveis em forma de inflação elevada, aumento dos custos das matérias-primas e de exploração e acesso limitado a financiamento, embora alguns setores se mantenham sólidos. O setor farmacêutico, alimentar e retalhista continuam a funcionar bem e o setor automóvel, orientado para a exportação, encontra-se melhor que o esperado. No setor retalhista de bens de consumo duradouros, os volumes de vendas também aumentaram em 2022. O risco de crédito é especialmente preocupante no setor da construção, com empresas muito endividadas que enfrentam um aumento dos custos financeiros. O setor pode receber um impulso pela reconstrução na região do terramoto, mas haverá normas rigorosas sobre o número de contratos que podem ser adjudicados a qualquer empresa. O sismo também perturbou grande parte da indústria têxtil turca, muito concentrada nas regiões afetadas. 

 

O Governo que se formar após as próximas eleições terá de seguir um caminho mais convencional para controlar a inflação e reduzir os desequilíbrios externos da Turquia. Isto implicará reduzir a despesa pública e, por parte do banco central, uma política monetária mais ortodoxa destinada a estabilizar a lira. "O alcance dos desafios económicos e a profundidade das vulnerabilidades externas garantem que qualquer viragem no sentido de políticas mais convencionais será um processo difícil e gradual. Subir as taxas de juro seria o primeiro passo para controlar a inflação, recuperar a confiança dos investidores e restabelecer as reservas de divisas. Mas isto também poderia estimular a primeira contração anual da atividade económica desde 2009", salienta, ainda, Theo Smid.

 

Sobre a Crédito y Caución


Crédito y Caución é uma das marcas líderes em seguro de crédito interno e de exportação em Portugal, com uma quota de mercado de 24%. A Crédito y Caución contribui para o crescimento das empresas, protegendo-as dos riscos de incumprimento associados a vendas a crédito de bens e serviços. A marca Crédito y Caución também está presente em Espanha e no Brasil. No resto do mundo opera como Atradius. Somos um operador global de seguro de crédito presente em mais de 50 países. A nossa actividade consolida-se no GCO.
 

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