Que impacto teria a saída da Grécia do euro?

Segundo a opinião da Crédito y Caución, existe uma baixa probabilidade de que a Grécia saia do euro, tendo em conta o cenário de negociações que agora se inicia.
Analisis Credito y Caución
Madrid - 30-jan-2015

As últimas eleições gregas geraram alguma inquietude, devido a uma possível saída do país da Zona Euro. Espera-se que o novo Governo grego procure reduzir a austeridade e renegociar a dívida pública pendente, seja prolongando o seu vencimento ou cancelando uma parte considerável da mesma. Prevê-se um período de negociações difíceis. Contudo, na opinião da Crédito y Caución, a probabilidade deste cenário conduzir a uma saída da Grécia do euro é baixa.

A saída da Grécia do euro não é uma opção para ninguém. O partido vencedor das eleições gregas afirmou que abandonar a moeda única não se encontra nos seus planos e as sondagens mostram que os eleitores gregos também não o desejam. Por outro lado, os líderes da Zona Euro também desejam que a Grécia permaneça no euro, temendo que a sua saída prejudique a estabilidade da moeda e abra precedentes para outros países. Desta forma, o abandono do euro pela Grécia seria apenas o resultado de diversos erros durante as negociações.

O impacto de uma saída da Grécia do euro sobre Portugal seria limitado, mas é muito incerto. Em 2011 e 2012, muitos temiam que uma saída da Grécia provocasse também a de outros estados membros, como Portugal e Espanha. Contudo, atualmente o marco institucional da Zona Euro é muito mais sólido. A criação de uma união bancária parcial, um fundo de emergências permanente e melhores condições económicas em Portugal e Espanha atenuaram o receio de contágio.

Ainda assim, a saída da Grécia teria um efeito negativo nas relações comerciais e financeiras da restante Zona Euro. As mais afetadas seriam as empresas estrangeiras que exportam para a Grécia, uma vez que os seus preços poderiam aumentar com a nova moeda grega. Os ativos e os passivos gregos de entidades financeiras estrangeiras perderiam valor, devido à depreciação da moeda.

Qual seria o efeito da saída da Grécia sobre a sua própria economia? Atualmente, a economia grega encontra-se numa situação muito melhor do que em 2010, quando o país recebeu o primeiro resgate. Contudo, a saída do euro traria graves repercussões internas. A economia sofreu uma contração de cerca de 25% desde 2008, mas estabilizou em 2014 e prevê-se que aumente 1,9% em 2015. O estado também conseguiu equilibrar as despesas e as receitas, excluindo o pagamento da dívida. Não obstante, os anos da crise deixaram uma taxa de desemprego de 27% e os bancos dependem, todavia, da ajuda do Banco Central Europeu.

O efeito na Grécia seria hoje tão grave como o que teria sido quatro anos atrás. Perante uma saída do euro, a Grécia teria de impor controlos de capital sobre as disposições de levantamento nas caixas e dos pagamentos em euros, o que iria alterar significativamente as transações empresariais nacionais e internacionais. O congelamento total poderia prolongar-se durante dias e os controlos de capitais internacionais durariam muitos meses. A Grécia iria introduzir uma nova moeda e todos os depósitos bancários seriam redefinidos. A nova moeda seria rapidamente desvalorizada, perdendo talvez 50% ou mais do seu valor face ao euro, o que aumentaria o valor efetivo da dívida e os ativos noutras moedas.

Estas mudanças por sua vez teriam consequências importantes nas empresas, nos agregados familiares e na economia em geral. A economia nacional poderia voltar a contrair-se significativamente, o que teria como resultado a perda de receitas para as empresas. As empresas com uma dívida substancial em divisas e ativos ou receitas na moeda local ver-se-iam confrontadas com uma deterioração substancial da sua solvabilidade. O setor bancário poderia sofrer um colapso, já que os bancos dependem em grande parte de financiamento estrangeiro, o que significa que não poderiam fornecer financiamento às empresas, nem às famílias. O acesso ao financiamento estrangeiro também estaria restringido devido aos controlos de capital implementados, o que poderia resultar em problemas de liquidez para as empresas. Mesmo aquelas que tivessem a capacidade e estivessem dispostas a pagar a credores internacionais, poderiam ver-se impedidas pelos controlos de capital e por uma possível escassez de disponibilidade de divisas.

O efeito sobre a economia grega implica que todas as empresas seriam influenciadas, no entanto algumas mais do que outras. As mais afetadas de forma negativa seriam as que importam uma grande quantidade dos seus produtos e os vendem internamente. Como resultado da desvalorização esperada da nova moeda, os custos de importação aumentariam significativamente.

As empresas coligadas ou pertencentes a grupos multinacionais parecem menos vulneráveis. O mesmo acontece com as empresas gregas que não dependem da importação de mercadorias para os seus negócios, mas que compram e vendem os seus produtos e serviços exclusivamente no mercado interno. Algumas empresas também poderiam beneficiar a médio e longo prazo da depreciação da moeda, beneficiando de uns preços de exportação mais baixos.

Os setores mais expostos à crise de liquidez ou a uma forte contração da atividade económica são a construção, o comércio (em especial eletrónica e vestuário, que são artigos importados), os produtos de luxo e o transporte. A curto prazo, o turismo ver-se-ia afetado devido ao elevado grau de incerteza na economia. Contudo, uma moeda grega muito mais barata poderia estimular o aumento do turismo a médio e longo prazo. Os setores dos produtos de alimentação básicos, a agricultura e a energia são artigos de primeira necessidade e, por conseguinte, deveriam demonstrar uma maior resistência e suportar melhor a contração da procura.

 

Sobre a Crédito y Caución

A Crédito y Caución  é um dos operadores líderes em seguro de crédito interno e de exportação em Portugal, com uma quota de mercado de 23%. A Crédito y Caución contribui para o crescimento das empresas, há mais de 85 anos, protegendo-as dos riscos associados às vendas a crédito de bens e serviços. Desde 2008 é o operador do Atradius em Portugal, Espanha e Brasil.

Atradius é o operador global de seguros de crédito, presente em 50 países, que tem acesso a informação de crédito em mais de 100 milhões de empresas em todo o mundo. O operador global consolida a sua actividade no âmbito do Grupo Catalana Occidente.

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