A Crédito y Caución tem uma quota de 31% de mercado em Portugal. É um número que o satisfaz? No corrente ano, e dadas as dificuldades que todos os operadores tiveram, acho que é um número muito interessante. O que é que significam estes 31% de quota de mercado? Representa ser o segundo operador. Nós manifestámos desde o início que tínhamos uma perspectiva de liderança no mercado. No entanto, ser líder de mercado não significa, por si só, ter maioria. Estar na frente é levar a candeia acesa e levar os outros atrás. Quando fala em levar a candeia acesa, o que é que isso significa? Digamos que é pautar as regras do próprio mercado. E quanto estamos a falar em regras do mercado, estamos a referir-nos à utilização da tecnologia, estar atentos aos níveis da prestação de serviços aos nossos clientes, e em fazer aquilo que tem de ser feito internamente nas companhias para as tornar rentáveis, cada vez mais fortes e com maior capacidade. Qual é o perfil do cliente da Crédito y Caución em Portugal? Temos todo o tipo de clientes, mas eu diria que a grande fatia está nas PME. É o segmento em que nos movemos com maior tranquilidade. Mas estamos a actuar em todos os outros sectores, seja de actividade ou de dimensão da empresa. É a velha questão de não pôr os ovos todos no mesmo cesto. Quanto mais versátil e diversa for a nossa carteira de clientes, mais fácil é a gestão própria companhia. Como é que correu o ano de 2009 no sector e na Crédito y Caución? 2008 já foi um ano bem complicado para o sector e, sendo complicado para o sector, também foi complicado para a Crédito y Caución. Foi um ano onde toda a gente perdeu dinheiro. 2009 começou com os níveis de sinistralidade a crescerem significativamente, se calhar para números nunca antes vistos, mas nos últimos meses notou-se uma ligeira melhoria. Quando digo alguma melhoria, é ao nível das próprias companhias, não estamos a falar ao nível económico. Como está a saúde financeira da Crédito y Caución? Admito que o nosso número de prémios seja igual ao do ano passado, relativamente próximo dos 21 milhões de euros, com rácios de sinistralidade abaixo dos 70%. São dados que nos permitem afrontar o ano de 2010 com um optimismo prudente. E optimismo parece ser a palavra de ordem, pelo menos de acordo com o estudo que vocês encomendaram, que dá conta que 38% das empresas a nível mundial estimam que a crise económica terminará no primeiro semestre de 2010 e mais de 60% antecipam que ocorra até ao final do próximo ano. O estudo engloba Portugal? Não inclui. E, relativamente a Portugal, estamos realmente prudentes, porque somos muito dependentes do exterior. Temos de nos virar para o exterior e, ao fazermos isso, vamos estar sempre dependentes do que os nossos principais parceiros fazem. É sabido e conhecido que Espanha não é em 2010 que vai sair da crise. E Espanha é só o primeiro parceiro. Mas depois estamos a falar de uma Alemanha, França, Reino Unido. É óbvio que a situação destes países pode, de alguma forma, melhorar, mas essa melhoria não sei se será de tal forma significativa que possa ter um impacto tão relevante para nós. É um facto que temos vindo, muito paulatinamente, a recuperar nos últimos meses, mas também não deixa de ser um facto, e de acordo com informação revelada recentemente, que estabilizámos essa recuperação. Tenho sérias dúvidas que Portugal saia da crise em 2010. Mais quando temos, nos próximos dois ou três anos, que fazer um esforço muito grande para cumprir o famoso défice público e obviamente que o Estado vai ter de tomar um conjunto de medidas que parto do princípio que não vão ser muito agradáveis. Não vemos que o crédito às empresas esteja a melhorar. Pelo contrário, há mais restrições. Acha que o Governo nacional se portou bem no que concerne ao apoio às empresas, e relativamente aos seguros de crédito? O Governo teve o mérito de, pelo menos, tentar, mas também acho que cedeu relativamente cedo. Penso que o Governo desconhecia a importância que o próprio seguro de crédito tinha na economia. A questão que se põe é se as medidas adoptadas tiveram ou não sucesso. E qual é a sua opinião? Não tiveram, de forma nenhuma, sucesso. Os protocolos assinados e os milhões de euros que foram disponibilizados ficaram muito aquém do esperado. As empresas não recorreram tanto a essas linhas de apoio. Porque é que as empresas não recorreram? Penso que se empolou a questão de que a falta do seguro de crédito impedia as empresas de exportar. Houve uma utilização abusiva desta questão. O que nós notamos é que não foi só Portugal que diminuiu as suas exportações, porque houve uma quebra de procura forte a nível externo. Por outro lado, as empresas tornaram-se muito mais prudentes a avaliar os seus clientes e a tomar decisões que tinham pela frente. Mas também houve a questão das limitações de acesso a essas linhas? Claro que houve. A questão é que, eventualmente, aquilo que, há um ano ou dois atrás, seria uma situação de insatisfação, hoje é uma situação de muito satisfação ou satisfação com as seguradoras. Como tal, não há necessidade deste tipo de linhas de apoio. Quase se criava um movimento nacional de solidariedade, que, depois, resultou em basicamente nada, com tanto espalhafato que foi criado, em termos do próprio parlamento e tudo. Em cima referiu que, se calhar, o Executivo não tinha percebido muito bem a importância dos seguros de crédito. Quer explicar melhor o seu ponto de vista? Até há um ano atrás, nunca tinha ouvido nenhum ministro nem secretário de Estado falar nos seguros de crédito. Eu acho que para eles foi um grande espanto quando se deram conta do número de queixas das associações empresariais. Obviamente que para solucionar o problema o Governo, para o assessorar, escolheu uma única fonte. Se existe uma única fonte, é óbvio que ela assessora da forma que melhor sabe e que melhor lhe convém. Qual é o pior erro que o Governo pode cometer no que concerne aos seguros de crédito, se continuar a interferir? Eu acho que é mesmo esse, o de continuar a interferir. Vamos salvaguardar duas questões: uma coisa são as linhas de apoio, que partimos do princípio, que servem para ser aplicadas num determinado período que tem uma limitação em termos temporais. Mais do que isso parece-me completamente fora de qualquer cenário possível. Eu acho é que o Governo, eventualmente, tem de estimular a situação, mas de forma a que os próprios seguradores se sintam mais à vontade. Em termos de seguros de crédito, nós temos uma função preventiva, de formar e informar os nossos clientes e dizer-lhes: olhe, não se meta com este possível parceiro, porque, do nosso ponto de vista, o risco de crédito é muito gravoso. E depois vem o Estado a dizer: não se preocupem, que eu garanto. Isto é complicado e pode distorcer completamente as leis do mercado. |
Mantenha-se informado. Receba a nossa Newsletter