O risco de crédito no Reino Unido

No Reino Unido, os setores automóvel, construção, consumo duradouro, metalurgia, papel, serviços, siderurgia e têxtil apresentam um elevado risco de incumprimento.
 

São Paolo - 02-ago-2021

 

 

  • Agricultura - Melhoria do risco de elevado para médio


O valor acrescentado do setor deverá crescer cerca de 2% em 2021. Os persistentes problemas de oferta de trabalho causados pelo Brexit e agravados pela pandemia criaram condições de mercado difíceis para o setor no Reino Unido. Para já, a escassez de mão de obra continuará a ser um problema. Ainda não se sabe qual o resultado real do acordo comercial com a União Europeia para o setor, mas será certamente positivo face à alternativa de um não-acordo. Existe a preocupação de que os próximos acordos comerciais bilaterais, como o recente acordo Austrália-Reino Unido, possam prejudicar o setor ao permitir importações agrícolas mais baratas, com padrões de produção inferiores.

 

  • Alimentação - Melhoria do risco de elevado para médio 


Nos últimos dois anos, a volatilidade das taxas de câmbio e o seu impacto nos custos dos produtos básicos e dos produtos alimentares constituiu um problema para muitos produtores e transformadores alimentares britânicos dependentes das importações. O crescente sucesso de mercado das lojas de descontos colocou os preços sob pressão, aumentando a pressão sobre os fornecedores ao longo da cadeia alimentar. Devido à incapacidade para absorver o aumento dos custos dos insumos e à maior pressão sobre as margens, tanto os incumprimentos como as insolvências aumentaram no primeiro semestre de 2020, mas voltaram a diminuir até atingirem um nível considerado baixo. Prevê-se que o valor acrescentado do setor cresça cerca de 1,5% em 2021, após uma descida de 5,6% em 2020.

 

  • Automóvel e transporte - Melhoria do risco de muito elevado para elevado


As interrupções na cadeia de fornecimento afetaram negativamente a capacidade de produção e a disponibilidade de stocks, com escassez e paragens prolongadas nas fábricas em todo o setor no início de 2020. O valor acrescentado do setor automóvel deve recuperar cerca de 24% em 2021, após uma contração de 26% em 2020. No entanto, a atual escassez mundial de semicondutores continua a condicionar a produção automóvel, atrasando a recuperação. O mercado automóvel britânico permanece intimamente ligado à Europa, visto que as importações da União Europeia representam 60% dos componentes de automóveis fabricados no Reino Unido, dos quais um em cada dois é exportado para os Estados-Membros da União Europeia. Embora o acordo comercial tenha evitado as tarifas diretas, a nova burocracia aduaneira com a União Europeia gerou atrasos nos prazos de entrega e custos adicionais para as empresas.

 

  • Construção e materiais - Risco elevado


A pandemia e a enorme recessão económica de 2020 afetaram gravemente o setor da construção, cujo valor acrescentado diminuiu 14%. No entanto, a construção teve uma recuperação mais rápida do que outros setores e deve retomar os níveis pré-pandemia em 2021, com uma previsão de crescimento de 14%. Todos os segmentos de obras novas recuperaram, em especial a construção residencial. O mesmo se aplica aos trabalhos de renovação e reparação, com os empreiteiros da construção a reportar fortes vendas. No entanto, as longas cadeias de abastecimento e os fortes aumentos nos preços das matérias-primas contribuíram para um rápido incremento dos custos médios das empresas de construção. O setor tem sofrido com a escassez de materiais de construção, principalmente aço, madeiras, ladrilhos e cimento em sacos. Tal como noutros países, a procura de materiais de construção no Reino Unido continua a ultrapassar a oferta e há alguns sinais de melhoria durante os meses de verão. Além disso, as empresas enfrentam problemas de oferta de mão de obra qualificada.

 

  • Consumo duradouro - Risco muito elevado


Muitos retalhistas com lojas físicas já enfrentavam problemas graves antes da pandemia, com custos de operação elevados, diminuição da faturação e aumento da concorrência dos retalhistas online, o que levou a uma deterioração das margens. Os encerramentos de pontos de venda físicos e as insolvências de retalhistas de maior dimensão em 2020 foram os mais elevados desde 2012. Além disso, os encerramentos no início de 2021 devido a um novo confinamento causaram novas dificuldades financeiras para os operadores mais fracos. A pandemia acelerou a transição dos consumidores britânicos para as compras online, uma tendência que muito provavelmente persistirá no futuro. O valor acrescentado do setor deve recuperar 7% em 2021, após uma descida de 6,7% no ano passado. Embora os retalhistas com lojas físicas com suficiente liquidez possam beneficiar da atual recuperação do consumo privado, os importantes problemas estruturais existentes antes da pandemia vão persistir. Estima-se, que as insolvências no setor do retalho aumentem no segundo semestre de 2021 e em 2022.

 

  • Eletrónica e TIC - Melhoria do risco de elevado para médio


As preocupações iniciais com as interrupções na cadeia de fornecimento durante os primeiros meses de 2020 revelaram-se infundadas dado que a procura de uma ampla gama de produto relacionados com o teletrabalho ainda se mantém elevada. Embora alguns dos principais operadores tenham alcançado vendas muito elevadas, continuam a existir desafios para várias empresas no que respeita à gestão do capital circulante. Nessa medida, é necessário continuar a avaliar os resultados comerciais de cada empresa e a situação de risco de crédito. Estima-se que o valor acrescentado do setor aumente 7% em 2021, após uma expansão de 3,3% no ano passado.

 

  • Financeiro - Risco médio


O setor mantém-se resistente, mas ainda poderia ver-se afetado pelo aumento dos problemas financeiros das empresas e dos consumidores, o que poderia provocar um aumento dos incumprimentos e uma deterioração dos lucros. Estima-se que o valor acrescentado do setor financeiro estabilize em 2021, após uma contração de 3,4% em 2020. Enquanto o Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia e o Reino Unido prevê um comércio bilateral livre de tarifas no setor das mercadorias, até agora pouco foi acordado para os serviços financeiros.

 

  • Maquinaria e engenharia - Risco médio


Até agora, o setor tem-se apresentado bastante resistente, com a maioria das empresas numa situação financeira estável. A diminuição da procura mundial e nacional, por parte dos principais setores compradores internos como a indústria automóvel e a construção, representou um importante risco no auge da pandemia. Contudo, a recuperação económica em curso conduziu a um aumento da procura de máquinas. Espera-se que o valor acrescentado da engenharia cresça cerca de 9% em 2021.

 

  • Metalurgia - Melhoria do risco de muito elevado para elevado


O valor acrescentado dos metais diminuiu 8,9% em 2020 com as graves perturbações provocadas pela pandemia no normal funcionamento da cadeia de fornecimento e na atividade comercial das empresas do setor. A procura de produtos de ferro diminuiu devido aos encerramentos de instalações de construção e de produção, enquanto as vendas de alumínio e metais especiais foram afetadas pela diminuição da procura nos setores aeroespacial e automóvel. Na medida em que o setor metalúrgico depende, em grande medida, do financiamento do capital circulante, a diminuição do comércio agravou os problemas de liquidez das empresas. Muitos produtores reduziram os custos para fazer face à escassez da procura. Contudo, as amplas medidas de estímulo fiscal evitaram um aumento dos incumprimentos e das insolvências. Em 2021, prevê-se uma recuperação modesta de 2,5%. Com a procura de metais a ultrapassar a oferta, os preços de venda aumentaram, mas estima-se que este aumento abrande no final do ano com a libertação da procura reprimida. A mudança no sentido da mobilidade elétrica continuará a impulsionar a procura de metais para baterias como níquel, lítio e cobalto, e espera-se que os preços dos metais preciosos se mantenham elevados.  

 

  • Químico e farmacêutico - Risco médio


Embora o segmento petroquímico tenha sido afetado pela extrema volatilidade dos preços do petróleo ocorrida no ano passado, o recente aumento dos preços do petróleo representa um certo consolo. Outros subsetores químicos foram afetados pela forte descida da procura por parte das principais indústrias compradoras, como o setor automóvel, embora a procura da indústria manufatureira tenha começado a recuperar. O valor acrescentado dos produtos químicos deverá crescer cerca de 2% em 2021, após uma descida de 3,9% em 2020. Após um aumento de 14% em 2020, prevê-se que o valor acrescentado dos produtos farmacêuticos continue a crescer mais de 4% devido ao aumento das despesas com a saúde.  

 

  • Papel e impressão - Risco elevado


O valor acrescentado do setor caiu 3,4% em 2020 e em 2021 é esperada uma contração de 2%. Os produtores de papel e as gráficas veem-se afetados de forma estrutural pelo processo de digitalização em curso. Diversas fábricas de papel anunciaram aumentos de preços entre 6% e 15%, já que os custos de produção aumentaram devido ao aumento dos preços de materiais básicos como a pasta de papel, a energia e os produtos químicos. Além disso, o setor foi afetado pelo forte aumento nos preços dos frete e dos contentores causados por interrupções no transporte marítimo de contentores. O fornecimento de cartão ondulado depende da reciclagem. Portanto, o segmento está sujeito às mudanças na dinâmica do comércio mundial. Os produtos de papel que entram no Reino Unido podem continuar a sofrer atrasos alfandegários, na medida em que o papel não é considerado um produto prioritário.

 

  • Serviços - Risco muito elevado


Dado que a economia do Reino Unido é impulsionada principalmente pelos setor de serviços, as medidas de confinamento e a forte deterioração do crescimento do PIB em 2020 tiveram repercussões diretas nos resultados deste setor, sendo os segmentos hoteleiro, restaurantes, turismo, agências de viagem e entretenimento os mais afetados. O valor acrescentado do setor sofreu uma contração de 10% em 2020, enquanto o segmento da hotelaria registou uma enorme descida de 44%. Contudo, os incumprimentos e as insolvências ainda não aumentaram. Tal como noutros setores, as empresas de serviços aproveitaram plenamente as diversas iniciativas de estímulo fiscal, o que deu lugar a bons níveis de liquidez. Isto aliviou algumas das preocupações com uma grande vaga de insolvências. Atualmente, estima-se que o valor acrescentado do setor aumente cerca de 4% em 2021, enquanto o segmento da hotelaria terá uma recuperação de 34%. Contudo, esta recuperação está sujeita ao processo de vacinação e à contenção da pandemia. Outro problema que poderá vir a afetar ao crescimento do setor é a mão de obra disponível.

 

  • Siderurgia - Risco elevado


Durante o confinamento no início de 2020, a procura de produtos siderúrgicos no Reino Unido diminuiu 45% e o valor acrescentado do setor teve um redução de 7,1%. Dado que esta indústria depende, em grande medida, do financiamento do capital circulante, a quebra no comércio exacerbou os problemas de liquidez e de fluxos de caixa das empresas. Contudo, as amplas medidas de estímulo fiscal evitaram, até agora, um aumento dos incumprimentos e das insolvências. Apesar do relaxamento das restrições e da recuperação das principais indústrias compradoras, a procura reprimida de aço encontrou estrangulamentos na capacidade mundial o que provocou um aumento considerável dos preços do aço. A médio prazo, os esforços de descarbonização no âmbito do objetivo governamental de emissões verdes para 2035 irá provavelmente provocar um aumento, a médio prazo, nos custos de produção já que se exigem maiores investimentos em novas tecnologias e processos. 

 

  • Têxtil - Risco muito elevado


Os produtores, grossistas e retalhistas já apresentavam problemas antes da pandemia relacionados com uma forte concorrência e margens muito reduzidas. Os retalhistas com lojas físicas foram especialmente afetados pelo aumento das vendas online. A deterioração causada pelos confinamentos agravou a crise no setor e o valor acrescentado da confeção deverá recuperar 12% em 2021, após uma enorme contração de 30% em 2020. Uma perceção negativa generalizada sobre a evolução do comércio retalhista no Reino Unido levanta preocupações quanto a um eminente aumento dos casos de insolvência.

 

Sobre a Crédito y Caución


Crédito y Caución é uma das marcas líderes em seguro de crédito interno e de exportação em Brasil, com uma quota de mercado de 18%. A Crédito y Caución contribui para o crescimento das empresas, protegendo-as dos riscos de incumprimento associados a vendas a crédito de bens e serviços. A marca Crédito y Caución também está presente em Espanha e no Portugal. No resto do mundo opera como Atradius. Somos um operador global de seguro de crédito presente em 50 países. A nossa actividade consolida-se no Grupo Catalana Occidente.
 

 

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