A guerra comercial entre os EUA e a China entra numa fase nova e intensa

As novas regulamentações norte-americanas sobre os microchips de última geração estão a elevar a tensão económica entre os dois gigantes mundiais.
 

São Paolo - 21-nov-2022

A guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais entrou numa nova fase, com a imposição, em outubro, por parte dos Estados Unidos, de amplas medidas de controlo à exportação de tecnologias de vanguarda destinadas ao seu rival asiático. O objetivo da nova regulamentação é limitar a capacidade das empresas chinesas para obter ou desenvolver microchips avançados que impulsionem as inovações em Inteligência Artificial. As novas leis também proíbem pessoas e empresas norte-americanas de apoiar as empresas chinesas que se dediquem a estas áreas. Por sua parte, a China não parece disposta a aliviar a tensão. De acordo com o recente congresso do Partido Comunista Chinês, podemos inferir que o país profundará as suas políticas de aumento da autossuficiência tecnológica e de priorização da segurança nacional sobre o crescimento económico.

 

Assistimos a uma fase nova e mais intensa da guerra comercial. Os controlos sobre as exportações e as proibições aos cidadãos norte-americanos de apoiar as empresas chinesas, conduzirão, provavelmente, a um desacoplar das economias norte-americana e chinesa no âmbito da tecnologia de ponta, com impacto negativo no intercâmbio de conhecimento entre as duas superpotências”, explica o economista da Atradius Ásia, Bert Burger. Esta nova fase poderá levar as multinacionais ocidentais a reduzir os seus investimentos na China e a deslocalizar a produção de bens de alta tecnologia para mercados como a Malásia, Tailândia ou Vietname. 

 

Embora a nova normativa leve a que as principais empresas de design de chips percam um mercado-chave para as exportações, as repercussões no setor tecnológico norte-americano levarão tempo a manifestar-se. "A curto prazo, o impacto nas empresas de tecnologia de ponta norte-americanas será limitado, na medida em que haverá muitas isenções para os principais players", explica o diretor de Riscos da Atradius nos EUA, Jon Starck. A curto prazo, além das isenções, as empresas podem solicitar licenças que lhes permitam continuar a vender produtos proibidos à China. O Departamento de Comércio dos EUA insiste que a maioria dessas licenças não serão concedidas, mas esta postura poderá mudar se houver um abrandamento das tensões.

 

Os Estados Unidos preveem que, a longo prazo, a proibição seja pior para o setor chinês de alta tecnologia do que para o seu próprio setor. Na China, as novas normativas poderiam ter um impacto significativo. A curto prazo, os fabricantes chineses de chips são os que mais vão sofrer porque dependem de componentes norte-americanos. As novas normativas também vão impedir que, num futuro próximo, a China desenvolva a sua própria indústria de chips de nova geração. "A Administração chinesa investiu milhares de milhões de dólares na sua indústria de chips. No entanto, construir uma cadeia de fornecimento totalmente chinesa em microchips avançados pode ser quase impossível, num futuro próximo. Os próprios fabricantes de equipamentos chineses continuam a estar quatro e cinco anos atrás dos seus homólogos estrangeiros", explica o diretor de Riscos da Atradius na China, Chris Chen. 

 

Será difícil contornar as proibições já que os Estados Unidos vão aplicar as sanções de forma extraterritorial: os fabricantes de chips avançados de outros países devem cumprir os controlos ou perder o acesso aos componentes essenciais norte-americanos. Contudo, a normativa apenas se aplica aos chips mais avançados, que representam uma pequena percentagem do comércio global de microchips. Isto significa que o efeito inicial poderá ser limitado também na China. "O impacto real destas restrições dependerá de como se apliquem as políticas. Não entanto, a curto prazo, não esperamos um impacto comercial amplo junto das empresas privadas chinesas", refere Chris Chen. 

 

Além dos fabricantes norte-americanos e chineses, a normativa tem implicações importantes também noutros países. "É provável que os fabricantes de chips japoneses, da Coreia do Sul e de Taiwan reduzam gradualmente os seus vínculos com as empresas chinesas e que diversifiquem a produção, a médio e longo prazo, para evitar a incerteza geopolítica", explica o diretor da Atradius na Ásia, Albirich Tang. Os fabricantes asiáticos de semicondutores que lideram o mercado global têm um ano para cumprir as restrições, pelo que não irão atuar por antecipação, mas a previsão é que os fabricantes de chips de vanguarda na Ásia e na Europa não queiram cair nas restrições dos Estados Unidos e com isso arriscar perder o acesso às cadeias de fornecimento avançadas de que dependem os seus negócios. Por isso, a nova regulamentação representa uma intensificação da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.

 

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