O Reino Unido realizará, no final de 2017, um referendo sobre a sua permanência como membro da União Europeia. Os potenciais efeitos do resultado vão mais além do âmbito nacional, tendo em conta que o Reino Unido tem uma economia aberta especialmente ligada à Europa, o seu parceiro comercial mais importante: as exportações britânicas para a União Europeia representam cerca de 12% do PIB.
De acordo com o relatório difundido pela Crédito y Caución, os britânicos votarão para permanecer numa União Europeia renovada. O relatório concede a este cenário uma probabilidade de 55%. Contudo, estas expetativas podem mudar nos próximos doze meses. O apoio popular a esta permanência começou a aumentar depois do marco da dívida soberana de 2011 e 2012. A incerteza económica levará provavelmente a que boa parte dos indecisos prefiram manter o status quo. Diferentes empresas e sindicatos têm apoiado a continuação na União Europeia. O impacto económico de um `Brexit´ pode ser um dos principais fatores que animem os britânicos a votar para permanecerem na EU de forma a restabelecer o crescimento estável e forte. As eleições da França e Alemanha, que se celebram em 2017, supõem um risco para este cenário, já que os líderes franceses e alemães vão dar menos atenção aos processos de negociação, o que poderia derivar em reformas insuficientes para o voto no `sim´. Outro dos riscos está na participação, previsivelmente mais entusiasta, dos partidos do `não´.
Se o Reino Unido votasse a favor de abandonar a União Europeia, a ambas as partes interessaria evitar interrupções no comércio, se bem que as negociações de um acordo semelhante ao da Suíça poderiam durar vários anos. O relatório difundido pela Crédito Y Caución concede a este cenário 35% de opções. O modelo suíço manteria a maioria dos benefícios económicos da relação atual com a União Europeia, ao mesmo tempo que permitiria que o Reino Unido adotasse políticas nacionais populares como o controlo da imigração.
O terceiro cenário passa por abandonar a União Europeia sem a existência de acordos amplos para permanecer de forma efetiva no mercado único, o que forçaria o Reino Unido a negociar acordos bilaterais com cada um dos seus parceiros comerciais. As previsões do relatório concedem a este cenário 10% de probabilidades. Este modelo daria mais liberdade ao Reino Unido no sentido de reequilibrar a sua economia para um crescimento impulsionado pelas exportações através do comércio com mercados emergentes. Contudo, nas negociações de acordos bilaterais, a União Europeia teria prioridade e maior influência que o Reino Unido, pelo que possivelmente esta seria uma opção desfavorável, em termos económicos, para o país.
O impacto económico na Grã Bretanha
A incerteza prévia quanto ao referendo pela possibilidade de um `Brexit´ terá consequências negativas, entre as quais se destaca o declínio do investimento estrangeiro direto, a prevenção no que se refere à despesa dos consumidores e empresas, o aumento dos níveis de emprego e a fragilidade do crescimento do PIB. Por agora, nem o FTSE 100 nem a libra esterlina foram afetados, mas o relatório prevê um aumento da vulnerabilidade do mercado desde finais de 2015 até 2017.
A vulnerabilidade provocada pelos potenciais efeitos de uma reimplantação de obstáculos comerciais concentra-se nos setores com maior intercâmbio entre o Reino Unido e a União Europeia. Três setores britânicos dirigem mais de metade das suas exportações para a União: minerais e petróleo [77%], químico [57%] e produtos manufaturados [53%]. Com um volume de comércio tão elevado, qualquer interrupção do comércio teria um efeito imediato, que afetaria especialmente as empresas de petróleo e gás. Também seria relevante o impacto no setor da maquinaria e equipamentos de transporte [41%] da qual faz parte a indústria automóvel.
O setor dos serviços constitui quase 80% da economia total do Reino Unido. Londres é um centro financeiro global e o maior da Europa: cerca de um terço dos serviços financeiros e de seguros exportados do Reino Unido são enviados para a União Europeia. As negociações comerciais para o setor dos serviços serão muito mais complicadas do que para o setor dos produtos, pois este setor é extremamente vulnerável às mudanças no comércio e arrisca-se a não ter um acesso semelhante ao mercado único. A norma da EU suporia um obstáculo, especialmente para a banca minoritária e os operadores do euro, mas o `Brexit´ não seria uma sentença de morte para a indústria financeira britânica: ainda que algumas empresas inevitavelmente se irão mudar para outros centros financeiros da EU como Frankfurt ou Dublin, seria quase impossível reproduzir noutro local uma rede tão ampla de serviços financeiros e profissionais.
Mercados Vulneráveis da União Europeia
Os países com fortes laços comerciais com o Reino Unido serão os mais vulneráveis e com um impacto económico imediato. O relatório identifica os três países que seriam mais afetados pelo `Brexit´ por ordem de vulnerabilidade: Irlanda, Países Baixos e Alemanha.
A Irlanda é uma economia pequena e aberta que depende do Reino Unido para 14% das suas exportações e 34% das suas importações. Além das interrupções comerciais, a reintrodução dos controlos aduaneiros suporia novos custos e tempo perdido para as transações transfronteiriças. Por outro lado, a Irlanda poderia beneficiar de uma maior entrada de investimento estrangeiro no terceiro dos cenários possíveis.
Em matéria de volume e proporção de exportações e importações, os Países Baixos são o segundo parceiro comercial do Reino Unido. Além disso, têm uma sólida relação de investimento: o Reino Unido é o destino mais popular para os investidores holandeses e os Países Baixos são o segundo destino mais popular para os investidores britânicos.
A Alemanha é o maior parceiro comercial do Reino Unido na União Europeia em termos de volume e o `Brexit´ eliminaria muitos dos benefícios do Mercado Único para a indústria alemã, especialmente no setor automóvel. Contudo, ao ser a maior economia da União é menos vulnerável economicamente.
Um dos efeitos mais imprevisíveis e de maior alcance do `Brexit´ seria a mudança do equilíbrio interno da União Europeia. O Reino Unido é um dos maiores defensores das políticas liberais e do livre comércio e é um aliado importante da Irlanda, Países Baixos e Alemanha. Se este bloqueio se reduzisse, cresceria a influência de países mais protecionistas como a França.
Sobre a Crédito y Caución
A Crédito y Caución é um dos operadores líderes em seguro de crédito interno e de exportação. A Crédito y Caución contribui para o crescimento das empresas, há mais de 85 anos, protegendo-as dos riscos associados às vendas a crédito de bens e serviços. Desde 2008 é o operador do Atradius em Brasil, Espahna e Portugal.
Atradius é o operador global de seguros de crédito, presente em 50 países, que tem acesso a informação de crédito em mais de 100 milhões de empresas em todo o mundo. O operador global consolida a sua actividade no âmbito do Grupo Catalana Occidente.
Mantenha-se informado. Receba a nossa Newsletter